Cana de Açúcar Madeira

A Cana de Açúcar e a Ilha da Madeira

A Cana de Açúcar e a Ilha da Madeira

Apr 08, 2020

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

A origem Da Cana-de-açúcar

A cana sacarina enquanto cultivo surge algures na Papua Nova Guiné há cerca de sensivelmente 12000 anos. 

Desde essa altura esta cultura espalhou-se até à Índia onde se verificaram as primeiras técnicas de transformação do sumo da cana-de açúcar em cristais de açúcar (entre os séculos I a IV DC). Foi a partir desta área na Ásia que o cultivo da cana sacarina foi levado para a área geral do Mediterrâneo pela mão dos árabes. Estes trouxeram-na para a Península Ibérica, Marrocos, Egipto e Sicília, juntamente com o conhecimento das técnicas de processamento desta matéria prima (a própria palavra açúcar tem origem na palavra árabe as-sukkar).

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

O Açúcar na Madeira

O arquipélago da Madeira é oficialmente descoberto a 1419, embora esteja bem documentado muito antes disso (veja-se a presença da ilha no Portulano de Dulcert em 1339 e a referência às Ilhas Afortunadas ou às Ilhas Purpura já no período Romano). 

O cultivo da cana-de-açúcar estava já estabelecido, por virtude da expansão islâmica nas suas variadas fases, na Península Ibérica e outras regiões do Mediterrâneo, como a ilha da Sicília. 

Com os esforços da expansão portuguesa vemos uma passagem do cultivo da cana sacarina do espaço do Mar Mediterrâneo para o espaço Atlântico, centrado na Ilha da Madeira.

O cultivo da Cana-de-açúcar surge na Madeira por vontade, ao que tudo indica, do Infante Dom Henrique. O primeiro Duque de Viseu revelou-se uma figura de influência importante nas ações de expansão portuguesa além-mar. É ele que manda vir da Ilha da Sicília as primeiras socas de cana-de-açúcar (alguns historiadores, ainda assim, discutem se as primeiras culturas de cana sacarina não terão vindo antes de Valência ou até mesmo do Algarve, porém a tese siciliana aparente ser a mais aceite).

A primeira plantação no Funchal acontece num campo pertencente ao Infante, o Campo do Duque, em 1425. 

A ilha tem boas condições para a produção de cana e do produto desta, o açúcar: é abundante em água e tem bastante madeira proveniente da floresta que poderá facilmente alimentar os engenhos. 

A instituição do cultivo da cana sacarina com o intuito de produzir açúcar, especiaria (ou à altura, no século XV, considerada como tal) muito cobiçada já nas cortes europeias do tempo e de valor particularmente elevado, contribuiu para o flagelo que é fenómeno da escravatura. No imediato foram “importados” escravos guanches vindos das vizinhas Canárias (os guanches são nativos das ilhas Canárias etnicamente relacionados com os povos bérberes norte-africanos) e posteriormente escravos negros vindos da Costa da Guiné. Aparentemente é na Madeira que, no contexto da produção do açúcar, foi aplicada mão-de-obra escrava negra pela primeira vez. O sistema colonial de produção de açúcar é posto em prática na Ilha da Madeira, numa escala muito menor, e será sucessivamente aplicado, em larga escala, noutras zonas de produção ultramarinas, como é o exemplo maior do Brasil. 

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

Após a primeira plantação de cana no Funchal, os canaviais são levados para a zona de Machico, onde se produzem as primeiras arrobas de açúcar. A distribuição dos canaviais é feita na sua maioria pela costa sul da Ilha da Madeira, na Capitania do Funchal, especialmente nas zonas da Ribeira Brava, Ponta do Sol (uma das maiores propriedades de canaviais era a Lombada dos Esmeraldos, pertencente a João Esmeraldo, fidalgo de origem flamenga) e Calheta. 

A construção dos primeiros engenhos vê a produção de açúcar explodir. Em 1500 a Madeira era o maior exportador de açúcar do mundo. O seu açúcar era considerado de qualidade superior e muito apreciado na Corte portuguesa, em Inglaterra e na Flandres. A produção madeirense fazia forte concorrência ao açúcar vindo do Mediterrâneo (Sicília, Marrocos e Egipto). 

A ilha vê um influxo de comerciantes vindos de todo o mundo conhecido (flamengos, italianos, ingleses, etc.). 

Os comerciantes da Flandres, em particular, trocavam o açúcar por obras de arte flamenga como a pintura do altar e o tecto de madeira decorado da Sé Catedral do Funchal e muitas das obras de arte que se encontram no Museu de Arte Sacra.

A popularidade do açúcar produzido na Madeira era tanta que o mesmo era incluído nas esmolas dadas a mosteiros, hospitais e misericórdias no domínio português da altura, tanto na Península Ibérica como no Norte de África. 

As técnicas de produção do açúcar usadas na Madeira eram ao início semelhantes às usadas no território de influência do Mediterrâneo, ou seja, os engenhos usavam força animal (bois). Posteriormente aproveitou-se um dos bens da ilha, a água. Usa-se então o engenho de água e o trapiche (geralmente uma moenda de cilindros usados para moer canas, de eixos horizontais ou verticais, movidos por animais ou até por homens).

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

O processo de produção de açúcar, de uma maneira muito básica, faz-se da seguinte forma: 

• As canas são colhidas e moídas dentro das primeiras 48h (isto tem que ver com o nível de sacarose que se vai perdendo quanto mais tempo passar desde o momento da colheita).

• Na moenda extrai-se o sumo e o bagaço. 

• O sumo da cana é cozido em caldeiras, filtrado de impurezas e concentrado em tachos até atingir a consistência de mel. O mel é batido até o ponto de cristalização do açúcar. 

• O açúcar era então quebrado e cozido novamente com o intuito de refinar, sendo colocado em formas cónicas conhecidas como pão de açúcar (veja a imagem em baixo). 

• Por fim o açúcar era purgado do mel que poderia restar através da lavagem. 

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

Eventualmente, após este primeiro “boom” sentido no século XV e início do século XVI, surge o declínio da produção de açúcar na ilha. Esta crise acontece na segunda metade do século XVI e tem várias causas. A cana sacarina na ilha começa a evidenciar doença e, ao mesmo tempo, há também uma forte concorrência de novos territórios produtores: Canárias, São Tomé e, principalmente, o Brasil. A produção açucareira decai de tal modo que não chega para as necessidades domésticas, chegando a ser importado para a ilha açúcar proveniente de São Tomé e do Brasil. Os engenhos de açúcar (outrora em grande número, embora ninguém consiga precisar) são gradualmente abandonados, sobrando poucos. 

Perante este contexto esta cultura perde importância para outra muito marcante para a ilha: o vinho. 

Mas é através do declínio da produção e comercialização do vinho que a cana de açúcar faz o seu “comeback”. Isto acontece com o advento do século XIX. 

Os engenhos de água e outros a vapor renascem. É produzido açúcar, nomeadamente pela famosa fábrica Hinton& C.a (até ao seu fecho em 1985) e outros quantos. Mas é também produzida a tão famosa aguardente de cana (elemento mais importante da poncha) e, eventualmente, outra herança gastronómica madeirense: o mel de cana. 

Este pequeno renascer da cana sacarina dura até o início do século XX até às restrições levantadas progressivamente à produção de aguardente pelos engenhos (que foram limitados não só na produção da mesma como na sua própria existência enquanto fábricas). Isto aconteceu porque estava a ficar evidente um problema de saúde pública provocado pelo excesso de consumo desta bebida altamente alcoólica. 

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

É desta maneira que vemos um novo crepúsculo da cana-de-açúcar na Madeira. Há um novo abandono deste cultivo, que vai sendo substituído pela bananeira no sul da ilha. No Norte, visto que não há uma mesma cultura de substituição dá-se o abandono das terras agrícolas e consequente vagas de emigração por parte da população mais jovem. 

Os engenhos que nos restam hoje em dia são herdeiros desta longa história que começa quase simultaneamente com o povoamento da ilha. Entre os quais contam-se o Engenho Novo da Madeira, Sociedade dos Engenhos da Calheta, Engenhos do Norte e a Fábrica Mel-de-Cana Ribeiro Sêco de V. Melim (uma das mais antigas). Estes dedicam-se na sua maioria à produção do Rum/Aguardente e o mel de cana sacarina, os dois tão presentes nos nossos rituais gastronómicos e culturais. 

 

A Cana-de-Açúcar e a Ilha da Madeira

 

Não se consegue equacionar a História da Madeira sem ter presente a importância fundamental da cultura do açúcar na mesma. Foi o açúcar que permitiu o povoamento eficaz da ilha e foi o açúcar que determinou a grande influência da mesma nos territórios ultramarinos do jovem império português. 

A Ilha da Madeira e o Açúcar estarão para sempre interligados. 

 

 

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Foi a partir desta &aacute;rea na &Aacute;sia que o cultivo da cana sacarina foi levado para a &aacute;rea geral do Mediterr&acirc;neo pela m&atilde;o dos &aacute;rabes. Estes trouxeram-na para a Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica, Marrocos, Egipto e Sic&iacute;lia, juntamente com o conhecimento das t&eacute;cnicas de processamento desta mat&eacute;ria prima (a pr&oacute;pria palavra a&ccedil;&uacute;car tem origem na palavra &aacute;rabe <em>as-sukka</em>r).</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (2)_1.jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <h4 style="text-align: justify;">&nbsp;</h4> <h4 style="text-align: justify;">O A&ccedil;&uacute;car na Madeira</h4> <p style="text-align: justify;">O arquip&eacute;lago da Madeira &eacute; oficialmente descoberto a 1419, embora esteja bem documentado muito antes disso (veja-se a presen&ccedil;a da ilha no Portulano de Dulcert em 1339 e a refer&ecirc;ncia &agrave;s Ilhas Afortunadas ou &agrave;s Ilhas Purpura j&aacute; no per&iacute;odo Romano).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">O cultivo da cana-de-a&ccedil;&uacute;car estava j&aacute; estabelecido, por virtude da expans&atilde;o isl&acirc;mica nas suas variadas fases, na Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica e outras regi&otilde;es do Mediterr&acirc;neo, como a ilha da Sic&iacute;lia.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Com os esfor&ccedil;os da expans&atilde;o portuguesa vemos uma passagem do cultivo da cana sacarina do espa&ccedil;o do Mar Mediterr&acirc;neo para o espa&ccedil;o Atl&acirc;ntico, centrado na Ilha da Madeira.</p> <p style="text-align: justify;">O cultivo da Cana-de-a&ccedil;&uacute;car surge na Madeira por vontade, ao que tudo indica, do Infante Dom Henrique. O primeiro Duque de Viseu revelou-se uma figura de influ&ecirc;ncia importante nas a&ccedil;&otilde;es de expans&atilde;o portuguesa al&eacute;m-mar. &Eacute; ele que manda vir da Ilha da Sic&iacute;lia as primeiras socas de cana-de-a&ccedil;&uacute;car (alguns historiadores, ainda assim, discutem se as primeiras culturas de cana sacarina n&atilde;o ter&atilde;o vindo antes de Val&ecirc;ncia ou at&eacute; mesmo do Algarve, por&eacute;m a tese siciliana aparente ser a mais aceite).</p> <p style="text-align: justify;">A primeira planta&ccedil;&atilde;o no Funchal acontece num campo pertencente ao Infante, o Campo do Duque, em 1425.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A ilha tem boas condi&ccedil;&otilde;es para a produ&ccedil;&atilde;o de cana e do produto desta, o a&ccedil;&uacute;car: &eacute; abundante em &aacute;gua e tem bastante madeira proveniente da floresta que poder&aacute; facilmente alimentar os engenhos.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A institui&ccedil;&atilde;o do cultivo da cana sacarina com o intuito de produzir a&ccedil;&uacute;car, especiaria (ou &agrave; altura, no s&eacute;culo XV, considerada como tal) muito cobi&ccedil;ada j&aacute; nas cortes europeias do tempo e de valor particularmente elevado, contribuiu para o flagelo que &eacute; fen&oacute;meno da escravatura. 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O sistema colonial de produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car &eacute; posto em pr&aacute;tica na Ilha da Madeira, numa escala muito menor, e ser&aacute; sucessivamente aplicado, em larga escala, noutras zonas de produ&ccedil;&atilde;o ultramarinas, como &eacute; o exemplo maior do Brasil.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (4).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Ap&oacute;s a primeira planta&ccedil;&atilde;o de cana no Funchal, os canaviais s&atilde;o levados para a zona de Machico, onde se produzem as primeiras arrobas de a&ccedil;&uacute;car. A distribui&ccedil;&atilde;o dos canaviais &eacute; feita na sua maioria pela costa sul da Ilha da Madeira, na Capitania do Funchal, especialmente nas zonas da Ribeira Brava, Ponta do Sol (uma das maiores propriedades de canaviais era a Lombada dos Esmeraldos, pertencente a Jo&atilde;o Esmeraldo, fidalgo de origem flamenga) e Calheta.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A constru&ccedil;&atilde;o dos primeiros engenhos v&ecirc; a produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car explodir. Em 1500 a Madeira era o maior exportador de a&ccedil;&uacute;car do mundo. O seu a&ccedil;&uacute;car era considerado de qualidade superior e muito apreciado na Corte portuguesa, em Inglaterra e na Flandres. A produ&ccedil;&atilde;o madeirense fazia forte concorr&ecirc;ncia ao a&ccedil;&uacute;car vindo do Mediterr&acirc;neo (Sic&iacute;lia, Marrocos e Egipto).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A ilha v&ecirc; um influxo de comerciantes vindos de todo o mundo conhecido (flamengos, italianos, ingleses, etc.).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os comerciantes da Flandres, em particular, trocavam o a&ccedil;&uacute;car por obras de arte flamenga como a pintura do altar e o tecto de madeira decorado da S&eacute; Catedral do Funchal e muitas das obras de arte que se encontram no <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-da-arte-sacra">Museu de Arte Sacra</a></strong>.</p> <p style="text-align: justify;">A popularidade do a&ccedil;&uacute;car produzido na Madeira era tanta que o mesmo era inclu&iacute;do nas esmolas dadas a mosteiros, hospitais e miseric&oacute;rdias no dom&iacute;nio portugu&ecirc;s da altura, tanto na Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica como no Norte de &Aacute;frica.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">As t&eacute;cnicas de produ&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car usadas na Madeira eram ao in&iacute;cio semelhantes &agrave;s usadas no territ&oacute;rio de influ&ecirc;ncia do Mediterr&acirc;neo, ou seja, os engenhos usavam for&ccedil;a animal (bois). Posteriormente aproveitou-se um dos bens da ilha, a &aacute;gua. Usa-se ent&atilde;o o engenho de &aacute;gua e o trapiche (geralmente uma moenda de cilindros usados para moer canas, de eixos horizontais ou verticais, movidos por animais ou at&eacute; por homens).</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (11).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">O processo de produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car, de uma maneira muito b&aacute;sica, faz-se da seguinte forma:&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; As canas s&atilde;o colhidas e mo&iacute;das dentro das primeiras 48h (isto tem que ver com o n&iacute;vel de sacarose que se vai perdendo quanto mais tempo passar desde o momento da colheita).</p> <p style="text-align: justify;">&bull; Na moenda extrai-se o sumo e o baga&ccedil;o.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; O sumo da cana &eacute; cozido em caldeiras, filtrado de impurezas e concentrado em tachos at&eacute; atingir a consist&ecirc;ncia de mel. O mel &eacute; batido at&eacute; o ponto de cristaliza&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; O a&ccedil;&uacute;car era ent&atilde;o quebrado e cozido novamente com o intuito de refinar, sendo colocado em formas c&oacute;nicas conhecidas como p&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car (veja a imagem em baixo).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; Por fim o a&ccedil;&uacute;car era purgado do mel que poderia restar atrav&eacute;s da lavagem.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (9).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Eventualmente, ap&oacute;s este primeiro &ldquo;boom&rdquo; sentido no s&eacute;culo XV e in&iacute;cio do s&eacute;culo XVI, surge o decl&iacute;nio da produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car na ilha. Esta crise acontece na segunda metade do s&eacute;culo XVI e tem v&aacute;rias causas. A cana sacarina na ilha come&ccedil;a a evidenciar doen&ccedil;a e, ao mesmo tempo, h&aacute; tamb&eacute;m uma forte concorr&ecirc;ncia de novos territ&oacute;rios produtores: Can&aacute;rias, S&atilde;o Tom&eacute; e, principalmente, o Brasil. A produ&ccedil;&atilde;o a&ccedil;ucareira decai de tal modo que n&atilde;o chega para as necessidades dom&eacute;sticas, chegando a ser importado para a ilha a&ccedil;&uacute;car proveniente de S&atilde;o Tom&eacute; e do Brasil. 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No Norte, visto que n&atilde;o h&aacute; uma mesma cultura de substitui&ccedil;&atilde;o d&aacute;-se o abandono das terras agr&iacute;colas e consequente vagas de emigra&ccedil;&atilde;o por parte da popula&ccedil;&atilde;o mais jovem.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os engenhos que nos restam hoje em dia s&atilde;o herdeiros desta longa hist&oacute;ria que come&ccedil;a quase simultaneamente com o povoamento da ilha. Entre os quais contam-se o Engenho Novo da Madeira, Sociedade dos Engenhos da Calheta, Engenhos do Norte e a F&aacute;brica Mel-de-Cana Ribeiro S&ecirc;co de V. Melim (uma das mais antigas). Estes dedicam-se na sua maioria &agrave; produ&ccedil;&atilde;o do Rum/Aguardente e o mel de cana sacarina, os dois t&atilde;o presentes nos nossos rituais gastron&oacute;micos e culturais.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (3).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">N&atilde;o se consegue equacionar a Hist&oacute;ria da Madeira sem ter presente a import&acirc;ncia fundamental da cultura do a&ccedil;&uacute;car na mesma. 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Foi a partir desta &aacute;rea na &Aacute;sia que o cultivo da cana sacarina foi levado para a &aacute;rea geral do Mediterr&acirc;neo pela m&atilde;o dos &aacute;rabes. Estes trouxeram-na para a Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica, Marrocos, Egipto e Sic&iacute;lia, juntamente com o conhecimento das t&eacute;cnicas de processamento desta mat&eacute;ria prima (a pr&oacute;pria palavra a&ccedil;&uacute;car tem origem na palavra &aacute;rabe <em>as-sukka</em>r).</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (2)_1.jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <h4 style="text-align: justify;">&nbsp;</h4> <h4 style="text-align: justify;">O A&ccedil;&uacute;car na Madeira</h4> <p style="text-align: justify;">O arquip&eacute;lago da Madeira &eacute; oficialmente descoberto a 1419, embora esteja bem documentado muito antes disso (veja-se a presen&ccedil;a da ilha no Portulano de Dulcert em 1339 e a refer&ecirc;ncia &agrave;s Ilhas Afortunadas ou &agrave;s Ilhas Purpura j&aacute; no per&iacute;odo Romano).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">O cultivo da cana-de-a&ccedil;&uacute;car estava j&aacute; estabelecido, por virtude da expans&atilde;o isl&acirc;mica nas suas variadas fases, na Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica e outras regi&otilde;es do Mediterr&acirc;neo, como a ilha da Sic&iacute;lia.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Com os esfor&ccedil;os da expans&atilde;o portuguesa vemos uma passagem do cultivo da cana sacarina do espa&ccedil;o do Mar Mediterr&acirc;neo para o espa&ccedil;o Atl&acirc;ntico, centrado na Ilha da Madeira.</p> <p style="text-align: justify;">O cultivo da Cana-de-a&ccedil;&uacute;car surge na Madeira por vontade, ao que tudo indica, do Infante Dom Henrique. O primeiro Duque de Viseu revelou-se uma figura de influ&ecirc;ncia importante nas a&ccedil;&otilde;es de expans&atilde;o portuguesa al&eacute;m-mar. &Eacute; ele que manda vir da Ilha da Sic&iacute;lia as primeiras socas de cana-de-a&ccedil;&uacute;car (alguns historiadores, ainda assim, discutem se as primeiras culturas de cana sacarina n&atilde;o ter&atilde;o vindo antes de Val&ecirc;ncia ou at&eacute; mesmo do Algarve, por&eacute;m a tese siciliana aparente ser a mais aceite).</p> <p style="text-align: justify;">A primeira planta&ccedil;&atilde;o no Funchal acontece num campo pertencente ao Infante, o Campo do Duque, em 1425.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A ilha tem boas condi&ccedil;&otilde;es para a produ&ccedil;&atilde;o de cana e do produto desta, o a&ccedil;&uacute;car: &eacute; abundante em &aacute;gua e tem bastante madeira proveniente da floresta que poder&aacute; facilmente alimentar os engenhos.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A institui&ccedil;&atilde;o do cultivo da cana sacarina com o intuito de produzir a&ccedil;&uacute;car, especiaria (ou &agrave; altura, no s&eacute;culo XV, considerada como tal) muito cobi&ccedil;ada j&aacute; nas cortes europeias do tempo e de valor particularmente elevado, contribuiu para o flagelo que &eacute; fen&oacute;meno da escravatura. No imediato foram &ldquo;importados&rdquo; escravos guanches vindos das vizinhas Can&aacute;rias (os guanches s&atilde;o nativos das ilhas Can&aacute;rias etnicamente relacionados com os povos b&eacute;rberes norte-africanos) e posteriormente escravos negros vindos da Costa da Guin&eacute;. Aparentemente &eacute; na Madeira que, no contexto da produ&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car, foi aplicada m&atilde;o-de-obra escrava negra pela primeira vez. O sistema colonial de produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car &eacute; posto em pr&aacute;tica na Ilha da Madeira, numa escala muito menor, e ser&aacute; sucessivamente aplicado, em larga escala, noutras zonas de produ&ccedil;&atilde;o ultramarinas, como &eacute; o exemplo maior do Brasil.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (4).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Ap&oacute;s a primeira planta&ccedil;&atilde;o de cana no Funchal, os canaviais s&atilde;o levados para a zona de Machico, onde se produzem as primeiras arrobas de a&ccedil;&uacute;car. A distribui&ccedil;&atilde;o dos canaviais &eacute; feita na sua maioria pela costa sul da Ilha da Madeira, na Capitania do Funchal, especialmente nas zonas da Ribeira Brava, Ponta do Sol (uma das maiores propriedades de canaviais era a Lombada dos Esmeraldos, pertencente a Jo&atilde;o Esmeraldo, fidalgo de origem flamenga) e Calheta.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A constru&ccedil;&atilde;o dos primeiros engenhos v&ecirc; a produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car explodir. Em 1500 a Madeira era o maior exportador de a&ccedil;&uacute;car do mundo. O seu a&ccedil;&uacute;car era considerado de qualidade superior e muito apreciado na Corte portuguesa, em Inglaterra e na Flandres. A produ&ccedil;&atilde;o madeirense fazia forte concorr&ecirc;ncia ao a&ccedil;&uacute;car vindo do Mediterr&acirc;neo (Sic&iacute;lia, Marrocos e Egipto).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A ilha v&ecirc; um influxo de comerciantes vindos de todo o mundo conhecido (flamengos, italianos, ingleses, etc.).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os comerciantes da Flandres, em particular, trocavam o a&ccedil;&uacute;car por obras de arte flamenga como a pintura do altar e o tecto de madeira decorado da S&eacute; Catedral do Funchal e muitas das obras de arte que se encontram no <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-da-arte-sacra">Museu de Arte Sacra</a></strong>.</p> <p style="text-align: justify;">A popularidade do a&ccedil;&uacute;car produzido na Madeira era tanta que o mesmo era inclu&iacute;do nas esmolas dadas a mosteiros, hospitais e miseric&oacute;rdias no dom&iacute;nio portugu&ecirc;s da altura, tanto na Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica como no Norte de &Aacute;frica.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">As t&eacute;cnicas de produ&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car usadas na Madeira eram ao in&iacute;cio semelhantes &agrave;s usadas no territ&oacute;rio de influ&ecirc;ncia do Mediterr&acirc;neo, ou seja, os engenhos usavam for&ccedil;a animal (bois). Posteriormente aproveitou-se um dos bens da ilha, a &aacute;gua. Usa-se ent&atilde;o o engenho de &aacute;gua e o trapiche (geralmente uma moenda de cilindros usados para moer canas, de eixos horizontais ou verticais, movidos por animais ou at&eacute; por homens).</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (11).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">O processo de produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car, de uma maneira muito b&aacute;sica, faz-se da seguinte forma:&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; As canas s&atilde;o colhidas e mo&iacute;das dentro das primeiras 48h (isto tem que ver com o n&iacute;vel de sacarose que se vai perdendo quanto mais tempo passar desde o momento da colheita).</p> <p style="text-align: justify;">&bull; Na moenda extrai-se o sumo e o baga&ccedil;o.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; O sumo da cana &eacute; cozido em caldeiras, filtrado de impurezas e concentrado em tachos at&eacute; atingir a consist&ecirc;ncia de mel. O mel &eacute; batido at&eacute; o ponto de cristaliza&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; O a&ccedil;&uacute;car era ent&atilde;o quebrado e cozido novamente com o intuito de refinar, sendo colocado em formas c&oacute;nicas conhecidas como p&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car (veja a imagem em baixo).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; Por fim o a&ccedil;&uacute;car era purgado do mel que poderia restar atrav&eacute;s da lavagem.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (9).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Eventualmente, ap&oacute;s este primeiro &ldquo;boom&rdquo; sentido no s&eacute;culo XV e in&iacute;cio do s&eacute;culo XVI, surge o decl&iacute;nio da produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car na ilha. Esta crise acontece na segunda metade do s&eacute;culo XVI e tem v&aacute;rias causas. A cana sacarina na ilha come&ccedil;a a evidenciar doen&ccedil;a e, ao mesmo tempo, h&aacute; tamb&eacute;m uma forte concorr&ecirc;ncia de novos territ&oacute;rios produtores: Can&aacute;rias, S&atilde;o Tom&eacute; e, principalmente, o Brasil. A produ&ccedil;&atilde;o a&ccedil;ucareira decai de tal modo que n&atilde;o chega para as necessidades dom&eacute;sticas, chegando a ser importado para a ilha a&ccedil;&uacute;car proveniente de S&atilde;o Tom&eacute; e do Brasil. Os <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-e-engenho-da-cana-de-acucar">engenhos de a&ccedil;&uacute;car</a></strong> (outrora em grande n&uacute;mero, embora ningu&eacute;m consiga precisar) s&atilde;o gradualmente abandonados, sobrando poucos.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Perante este contexto esta cultura perde import&acirc;ncia para outra muito marcante para a ilha: o <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-da-madeira-wine">vinho.&nbsp;</a></strong></p> <p style="text-align: justify;">Mas &eacute; atrav&eacute;s do decl&iacute;nio da produ&ccedil;&atilde;o e comercializa&ccedil;&atilde;o do vinho que a cana de a&ccedil;&uacute;car faz o seu &ldquo;comeback&rdquo;. Isto acontece com o advento do s&eacute;culo XIX.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os engenhos de &aacute;gua e outros a vapor renascem. &Eacute; produzido a&ccedil;&uacute;car, nomeadamente pela famosa f&aacute;brica Hinton&amp; C.a (at&eacute; ao seu fecho em 1985) e outros quantos. Mas &eacute; tamb&eacute;m produzida a <strong><a href="https://blog.madeira.best/aguardente-de-cana-da-madeira">t&atilde;o famosa aguardente de cana</a></strong> (elemento mais importante da<strong><a href="https://blog.madeira.best/poncha-da-madeira"> poncha</a></strong>) e, eventualmente, outra heran&ccedil;a gastron&oacute;mica madeirense: o mel de cana.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Este pequeno renascer da cana sacarina dura at&eacute; o in&iacute;cio do s&eacute;culo XX at&eacute; &agrave;s restri&ccedil;&otilde;es levantadas progressivamente &agrave; produ&ccedil;&atilde;o de aguardente pelos engenhos (que foram limitados n&atilde;o s&oacute; na produ&ccedil;&atilde;o da mesma como na sua pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia enquanto f&aacute;bricas). Isto aconteceu porque estava a ficar evidente um problema de sa&uacute;de p&uacute;blica provocado pelo excesso de consumo desta bebida altamente alco&oacute;lica.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (10).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&Eacute; desta maneira que vemos um novo crep&uacute;sculo da cana-de-a&ccedil;&uacute;car na Madeira. H&aacute; um novo abandono deste cultivo, que vai sendo substitu&iacute;do pela bananeira no sul da ilha. No Norte, visto que n&atilde;o h&aacute; uma mesma cultura de substitui&ccedil;&atilde;o d&aacute;-se o abandono das terras agr&iacute;colas e consequente vagas de emigra&ccedil;&atilde;o por parte da popula&ccedil;&atilde;o mais jovem.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os engenhos que nos restam hoje em dia s&atilde;o herdeiros desta longa hist&oacute;ria que come&ccedil;a quase simultaneamente com o povoamento da ilha. Entre os quais contam-se o Engenho Novo da Madeira, Sociedade dos Engenhos da Calheta, Engenhos do Norte e a F&aacute;brica Mel-de-Cana Ribeiro S&ecirc;co de V. Melim (uma das mais antigas). Estes dedicam-se na sua maioria &agrave; produ&ccedil;&atilde;o do Rum/Aguardente e o mel de cana sacarina, os dois t&atilde;o presentes nos nossos rituais gastron&oacute;micos e culturais.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (3).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">N&atilde;o se consegue equacionar a Hist&oacute;ria da Madeira sem ter presente a import&acirc;ncia fundamental da cultura do a&ccedil;&uacute;car na mesma. Foi o a&ccedil;&uacute;car que permitiu o povoamento eficaz da ilha e foi o a&ccedil;&uacute;car que determinou a grande influ&ecirc;ncia da mesma nos territ&oacute;rios ultramarinos do jovem imp&eacute;rio portugu&ecirc;s.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A Ilha da Madeira e o A&ccedil;&uacute;car estar&atilde;o para sempre interligados.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> </body> </html>
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<!DOCTYPE html> <html> <head> </head> <body> <h3 style="text-align: justify;">A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira</h3> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (5).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <h4 style="text-align: justify;">&nbsp;</h4> <h4 style="text-align: justify;">A origem Da Cana-de-a&ccedil;&uacute;car</h4> <p style="text-align: justify;">A cana sacarina enquanto cultivo surge algures na Papua Nova Guin&eacute; h&aacute; cerca de sensivelmente 12000 anos.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Desde essa altura esta cultura espalhou-se at&eacute; &agrave; &Iacute;ndia onde se verificaram as primeiras t&eacute;cnicas de transforma&ccedil;&atilde;o do sumo da cana-de a&ccedil;&uacute;car em cristais de a&ccedil;&uacute;car (entre os s&eacute;culos I a IV DC). Foi a partir desta &aacute;rea na &Aacute;sia que o cultivo da cana sacarina foi levado para a &aacute;rea geral do Mediterr&acirc;neo pela m&atilde;o dos &aacute;rabes. Estes trouxeram-na para a Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica, Marrocos, Egipto e Sic&iacute;lia, juntamente com o conhecimento das t&eacute;cnicas de processamento desta mat&eacute;ria prima (a pr&oacute;pria palavra a&ccedil;&uacute;car tem origem na palavra &aacute;rabe <em>as-sukka</em>r).</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (2)_1.jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <h4 style="text-align: justify;">&nbsp;</h4> <h4 style="text-align: justify;">O A&ccedil;&uacute;car na Madeira</h4> <p style="text-align: justify;">O arquip&eacute;lago da Madeira &eacute; oficialmente descoberto a 1419, embora esteja bem documentado muito antes disso (veja-se a presen&ccedil;a da ilha no Portulano de Dulcert em 1339 e a refer&ecirc;ncia &agrave;s Ilhas Afortunadas ou &agrave;s Ilhas Purpura j&aacute; no per&iacute;odo Romano).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">O cultivo da cana-de-a&ccedil;&uacute;car estava j&aacute; estabelecido, por virtude da expans&atilde;o isl&acirc;mica nas suas variadas fases, na Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica e outras regi&otilde;es do Mediterr&acirc;neo, como a ilha da Sic&iacute;lia.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Com os esfor&ccedil;os da expans&atilde;o portuguesa vemos uma passagem do cultivo da cana sacarina do espa&ccedil;o do Mar Mediterr&acirc;neo para o espa&ccedil;o Atl&acirc;ntico, centrado na Ilha da Madeira.</p> <p style="text-align: justify;">O cultivo da Cana-de-a&ccedil;&uacute;car surge na Madeira por vontade, ao que tudo indica, do Infante Dom Henrique. O primeiro Duque de Viseu revelou-se uma figura de influ&ecirc;ncia importante nas a&ccedil;&otilde;es de expans&atilde;o portuguesa al&eacute;m-mar. &Eacute; ele que manda vir da Ilha da Sic&iacute;lia as primeiras socas de cana-de-a&ccedil;&uacute;car (alguns historiadores, ainda assim, discutem se as primeiras culturas de cana sacarina n&atilde;o ter&atilde;o vindo antes de Val&ecirc;ncia ou at&eacute; mesmo do Algarve, por&eacute;m a tese siciliana aparente ser a mais aceite).</p> <p style="text-align: justify;">A primeira planta&ccedil;&atilde;o no Funchal acontece num campo pertencente ao Infante, o Campo do Duque, em 1425.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A ilha tem boas condi&ccedil;&otilde;es para a produ&ccedil;&atilde;o de cana e do produto desta, o a&ccedil;&uacute;car: &eacute; abundante em &aacute;gua e tem bastante madeira proveniente da floresta que poder&aacute; facilmente alimentar os engenhos.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A institui&ccedil;&atilde;o do cultivo da cana sacarina com o intuito de produzir a&ccedil;&uacute;car, especiaria (ou &agrave; altura, no s&eacute;culo XV, considerada como tal) muito cobi&ccedil;ada j&aacute; nas cortes europeias do tempo e de valor particularmente elevado, contribuiu para o flagelo que &eacute; fen&oacute;meno da escravatura. No imediato foram &ldquo;importados&rdquo; escravos guanches vindos das vizinhas Can&aacute;rias (os guanches s&atilde;o nativos das ilhas Can&aacute;rias etnicamente relacionados com os povos b&eacute;rberes norte-africanos) e posteriormente escravos negros vindos da Costa da Guin&eacute;. Aparentemente &eacute; na Madeira que, no contexto da produ&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car, foi aplicada m&atilde;o-de-obra escrava negra pela primeira vez. O sistema colonial de produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car &eacute; posto em pr&aacute;tica na Ilha da Madeira, numa escala muito menor, e ser&aacute; sucessivamente aplicado, em larga escala, noutras zonas de produ&ccedil;&atilde;o ultramarinas, como &eacute; o exemplo maior do Brasil.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (4).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Ap&oacute;s a primeira planta&ccedil;&atilde;o de cana no Funchal, os canaviais s&atilde;o levados para a zona de Machico, onde se produzem as primeiras arrobas de a&ccedil;&uacute;car. A distribui&ccedil;&atilde;o dos canaviais &eacute; feita na sua maioria pela costa sul da Ilha da Madeira, na Capitania do Funchal, especialmente nas zonas da Ribeira Brava, Ponta do Sol (uma das maiores propriedades de canaviais era a Lombada dos Esmeraldos, pertencente a Jo&atilde;o Esmeraldo, fidalgo de origem flamenga) e Calheta.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A constru&ccedil;&atilde;o dos primeiros engenhos v&ecirc; a produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car explodir. Em 1500 a Madeira era o maior exportador de a&ccedil;&uacute;car do mundo. O seu a&ccedil;&uacute;car era considerado de qualidade superior e muito apreciado na Corte portuguesa, em Inglaterra e na Flandres. A produ&ccedil;&atilde;o madeirense fazia forte concorr&ecirc;ncia ao a&ccedil;&uacute;car vindo do Mediterr&acirc;neo (Sic&iacute;lia, Marrocos e Egipto).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A ilha v&ecirc; um influxo de comerciantes vindos de todo o mundo conhecido (flamengos, italianos, ingleses, etc.).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os comerciantes da Flandres, em particular, trocavam o a&ccedil;&uacute;car por obras de arte flamenga como a pintura do altar e o tecto de madeira decorado da S&eacute; Catedral do Funchal e muitas das obras de arte que se encontram no <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-da-arte-sacra">Museu de Arte Sacra</a></strong>.</p> <p style="text-align: justify;">A popularidade do a&ccedil;&uacute;car produzido na Madeira era tanta que o mesmo era inclu&iacute;do nas esmolas dadas a mosteiros, hospitais e miseric&oacute;rdias no dom&iacute;nio portugu&ecirc;s da altura, tanto na Pen&iacute;nsula Ib&eacute;rica como no Norte de &Aacute;frica.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">As t&eacute;cnicas de produ&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car usadas na Madeira eram ao in&iacute;cio semelhantes &agrave;s usadas no territ&oacute;rio de influ&ecirc;ncia do Mediterr&acirc;neo, ou seja, os engenhos usavam for&ccedil;a animal (bois). Posteriormente aproveitou-se um dos bens da ilha, a &aacute;gua. Usa-se ent&atilde;o o engenho de &aacute;gua e o trapiche (geralmente uma moenda de cilindros usados para moer canas, de eixos horizontais ou verticais, movidos por animais ou at&eacute; por homens).</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (11).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">O processo de produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car, de uma maneira muito b&aacute;sica, faz-se da seguinte forma:&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; As canas s&atilde;o colhidas e mo&iacute;das dentro das primeiras 48h (isto tem que ver com o n&iacute;vel de sacarose que se vai perdendo quanto mais tempo passar desde o momento da colheita).</p> <p style="text-align: justify;">&bull; Na moenda extrai-se o sumo e o baga&ccedil;o.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; O sumo da cana &eacute; cozido em caldeiras, filtrado de impurezas e concentrado em tachos at&eacute; atingir a consist&ecirc;ncia de mel. O mel &eacute; batido at&eacute; o ponto de cristaliza&ccedil;&atilde;o do a&ccedil;&uacute;car.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; O a&ccedil;&uacute;car era ent&atilde;o quebrado e cozido novamente com o intuito de refinar, sendo colocado em formas c&oacute;nicas conhecidas como p&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car (veja a imagem em baixo).&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&bull; Por fim o a&ccedil;&uacute;car era purgado do mel que poderia restar atrav&eacute;s da lavagem.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (9).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Eventualmente, ap&oacute;s este primeiro &ldquo;boom&rdquo; sentido no s&eacute;culo XV e in&iacute;cio do s&eacute;culo XVI, surge o decl&iacute;nio da produ&ccedil;&atilde;o de a&ccedil;&uacute;car na ilha. Esta crise acontece na segunda metade do s&eacute;culo XVI e tem v&aacute;rias causas. A cana sacarina na ilha come&ccedil;a a evidenciar doen&ccedil;a e, ao mesmo tempo, h&aacute; tamb&eacute;m uma forte concorr&ecirc;ncia de novos territ&oacute;rios produtores: Can&aacute;rias, S&atilde;o Tom&eacute; e, principalmente, o Brasil. A produ&ccedil;&atilde;o a&ccedil;ucareira decai de tal modo que n&atilde;o chega para as necessidades dom&eacute;sticas, chegando a ser importado para a ilha a&ccedil;&uacute;car proveniente de S&atilde;o Tom&eacute; e do Brasil. Os <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-e-engenho-da-cana-de-acucar">engenhos de a&ccedil;&uacute;car</a></strong> (outrora em grande n&uacute;mero, embora ningu&eacute;m consiga precisar) s&atilde;o gradualmente abandonados, sobrando poucos.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Perante este contexto esta cultura perde import&acirc;ncia para outra muito marcante para a ilha: o <strong><a href="https://madeira.best/produto/museu-da-madeira-wine">vinho.&nbsp;</a></strong></p> <p style="text-align: justify;">Mas &eacute; atrav&eacute;s do decl&iacute;nio da produ&ccedil;&atilde;o e comercializa&ccedil;&atilde;o do vinho que a cana de a&ccedil;&uacute;car faz o seu &ldquo;comeback&rdquo;. Isto acontece com o advento do s&eacute;culo XIX.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os engenhos de &aacute;gua e outros a vapor renascem. &Eacute; produzido a&ccedil;&uacute;car, nomeadamente pela famosa f&aacute;brica Hinton&amp; C.a (at&eacute; ao seu fecho em 1985) e outros quantos. Mas &eacute; tamb&eacute;m produzida a <strong><a href="https://blog.madeira.best/aguardente-de-cana-da-madeira">t&atilde;o famosa aguardente de cana</a></strong> (elemento mais importante da<strong><a href="https://blog.madeira.best/poncha-da-madeira"> poncha</a></strong>) e, eventualmente, outra heran&ccedil;a gastron&oacute;mica madeirense: o mel de cana.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Este pequeno renascer da cana sacarina dura at&eacute; o in&iacute;cio do s&eacute;culo XX at&eacute; &agrave;s restri&ccedil;&otilde;es levantadas progressivamente &agrave; produ&ccedil;&atilde;o de aguardente pelos engenhos (que foram limitados n&atilde;o s&oacute; na produ&ccedil;&atilde;o da mesma como na sua pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia enquanto f&aacute;bricas). Isto aconteceu porque estava a ficar evidente um problema de sa&uacute;de p&uacute;blica provocado pelo excesso de consumo desta bebida altamente alco&oacute;lica.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (10).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&Eacute; desta maneira que vemos um novo crep&uacute;sculo da cana-de-a&ccedil;&uacute;car na Madeira. H&aacute; um novo abandono deste cultivo, que vai sendo substitu&iacute;do pela bananeira no sul da ilha. No Norte, visto que n&atilde;o h&aacute; uma mesma cultura de substitui&ccedil;&atilde;o d&aacute;-se o abandono das terras agr&iacute;colas e consequente vagas de emigra&ccedil;&atilde;o por parte da popula&ccedil;&atilde;o mais jovem.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Os engenhos que nos restam hoje em dia s&atilde;o herdeiros desta longa hist&oacute;ria que come&ccedil;a quase simultaneamente com o povoamento da ilha. Entre os quais contam-se o Engenho Novo da Madeira, Sociedade dos Engenhos da Calheta, Engenhos do Norte e a F&aacute;brica Mel-de-Cana Ribeiro S&ecirc;co de V. Melim (uma das mais antigas). Estes dedicam-se na sua maioria &agrave; produ&ccedil;&atilde;o do Rum/Aguardente e o mel de cana sacarina, os dois t&atilde;o presentes nos nossos rituais gastron&oacute;micos e culturais.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;"><img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" src="../../../../storage/uploads/tinymce/cana-de-a&ccedil;&uacute;car e a ilha da madeira (3).jpg" alt="A Cana-de-A&ccedil;&uacute;car e a Ilha da Madeira" width="856" height="460" /></p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">N&atilde;o se consegue equacionar a Hist&oacute;ria da Madeira sem ter presente a import&acirc;ncia fundamental da cultura do a&ccedil;&uacute;car na mesma. Foi o a&ccedil;&uacute;car que permitiu o povoamento eficaz da ilha e foi o a&ccedil;&uacute;car que determinou a grande influ&ecirc;ncia da mesma nos territ&oacute;rios ultramarinos do jovem imp&eacute;rio portugu&ecirc;s.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A Ilha da Madeira e o A&ccedil;&uacute;car estar&atilde;o para sempre interligados.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">&nbsp;</p> </body> </html>
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